9/30/2005

Autobiografia V

Por um rosto chego ao teu rosto. Vejo outros rostos, uns que não conheço. Vejo fotos recentes e nenhuma velha. Hábitos que desconhecia, músicas que pensava que não gostavas e que agora vou ter de ouvir. Talvez não devesse ter andado à procura do teu rosto. Pelo menos, por enquanto.

Autobiografia IV

Volta e meia, a tecnologia trai-me os equilibrismos sentimentais. Pode ser um blogue, pode ser o Orkut. Mais recentemente, surgiu um programa que permite que se veja a minha cidade do espaço. Os subúrbios da memória podem ser percorridos insistentemente com uma veracidade aterradora. A escola branca, o centro comercial onde íamos comprar pão quente e folhados de maçã e canela depois das aulas. As ruas íngremes dos caminhos tantas vezes percorridos. O campo de futebol onde fumávamos às escondidas, que fiquei a saber que foi substituído por mais um pavilhão. Pena não ter sido só o campo de futebol.

9/29/2005

Autobiografia III

Ooh, Stop.

With your feet on the air and your head on the ground,
Try this trick and spin it, (yeah) yeah,
Your head will collapse but there’s nothing in it,
And you’ll ask yourself:
Where is my mind?

Way out in the water,
See it swimming?

I was swimming in the Caribbean,
Animals were hiding behind the rocks,
Except the little fish,
But they told me this is where it’s gonna talk to me honeybunny:
Where is my mind?

Way out in the water,
See it swimming?

With your feet on the air and your head on the ground,
Try this trick and spin it, yeah,
Your head will collapse but there’s nothing in it,
And you’ll ask yourself:
Where is my mind?

Way out in the water,
See it swimming?

Pixies

Autobiografia II

Há uma fotografia – mental, mas nem por isso deixa de ser uma fotografia – nossa na Boca do Inferno. Princípios de Abril, o sol quente, as partículas que se despenhavam contra as rochas a pairar no ar, nos teus cabelos. Não é por ser mental – a fotografia – que tem menos valor. Por ser mental, também a camisola de lã não picava no corpo nu de quem a vestia.

E voltava-se a Lisboa, com a cidade e o mar a adormecerem. Pela Marginal, com determinada música. Com a tua voz que me embalava.
Abril de 199...

Autobiografia

A história foi feita precisamente para que tomasse o seu lugar no presente, por muito pouco jeito que nos dê. Como um repto que se aceita para as noites de sexta-feira, como se ainda andássemos na escola, como se ainda comprássemos pão quente depois das aulas. Brevemente reaparece-nos - a história - em contextos que não sei bem se podem ser incluídos na classe dos inesperados. Bem ou mal, andamos sempre à procura da história.

9/28/2005

A Flor da Idade, para a Joana

A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor

Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
A armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor

Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor

Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha

Chico Buarque de Holanda

9/27/2005

Os 25

Antes de fazer 25 anos, a Joana ficou zen, abandonou o telemóvel e já se diz que ambiciona viver num mundo sem tecnologia. Por isso, a melhor maneira que encontrei de lhe dar os parabéns foi esta. PARABÉNS!

9/25/2005

No fim de Setembro...

... mudam as estações e mudamos nós. Eu, pelo menos, sempre fui um gajo telúrico. Assim, muda também o Hopper que nos acompanha. Acabam-se as portas abertas para o mar. Hopper segue a Hopper. Este, mais solitário, vai bem com os tempos.

Habituem-se

(...) confusão deliberada entre partido, Estado e Justiça. Escrevo estas coisas com inicial maiúscula, mas nem sei bem porquê."

Com o tempo, as palavras de Vitorino revelaram-se proféticas, como se fosse o primeiro a conceptualizar uma nova ideologia. Nós, por cá, só agora começamos a perceber esta mudança. Só não sei se nos vamos habituar...

9/23/2005

Mike Oldfield



No outro dia estava na FNAC com a iminha irmã e ela comprou um album intitulado "Tres Lunas" de 2002 cujo autor é Mike Olfield.
O sticker na caixa dizia Mike Oldields Chill Out album...

Há muitos anos que sou fã deste multinstrumentalista e compositor inglês, mas recentemente os seus trabalhos seguiram um rumo bastante diferente daquele que me agarrou há mais de dez anos e que são os seus albuns dos anos 70 e 80.

Começou a carreira em 1971 com um disco instrumental chamado Tubular Bells. Não era mais que uma peça de música contínua de um lado e que continuava no outro. Oldfield tocava todos os instrumentos num total de mais de 30.

Embora nada caraterístico(para dizer o mínimo) este album marcou uma posição tão forte que atingiu o número um na Inglaterra e o jovem Oldfield então com 19 anos foi catapultado para a ribalta como génio criador.

Oldfield era no entanto introvertido e virado para a criação. No ano seguinto lançou um album semelhante Hergest Ridge onde cimentou o formato do anterior, criando paisagens sonoras com a sobreposição de vários instrumentos tocados por si próprio, desde a guitarra ao baixo, do piano ao xilofone, apenas com alguns convidados a fazer alguns coros ou percurssionistas.

O terceiro album Ommadawn foi de novo instrumental e foi de novo um grande êxito. Para mim estes três são uma triologia do ínicio de Oldfield...o Oldfield puro, sem concessões.

A partir daí Oldfield foi-se refinando e explorando outras áreas da múscia mas sempre adaptando-as ao seu estilo de interpretação muito pessoal e virtuoso como é o caso de uma versão de Arrival dos Abba, para mim melhor que a original. Qualquer apreciador de música pode sentir um imenso prazer ao ouvir as diversas interpretaçãoes que Oldfield faz em cada tema, seja ele uma longa composição de vinte minutos épica ou um curto lamento de 2 minutos só com guitarra.

Em 1983 Saltou de novo para a riblata com single Moonlight Shadow, uma música pop cantada pela sua agora parceira quaseinseparável Maggie Reilly, que começou por fazer coros para as composições de Mike Oldfield e que agora era parte de uma banda que Oldfield juntou para levar aos palcos o seu album desse ano Crisis

Em 1984 lançou Discovery, e em 1987 Islands...ambos com a mesma estrutura de de Crisis. Um primeiro tema instrumental de 20 minutos seguido de 6 ou sete musicas mais curtas, de onde sobressaem To france e Islands(cantado por Bonnie Tyler) que foram singles de sucesso dos eighties.

A difícil transição para os Nineties levou Oldfield a quebrar a sua ligação de quase vinte anos com a editora Virgin( cujo primeiro título que editou foi precisamente o Tubular Bells) e assinar pela WEA, em busca de liberdade criativa.

O primeiro título que lançou com a nova editora foi Tubular Bells 2 em 1992 que foi um grande êxito comercial que culminou com um concerto ao vivo no castelo de Edinburgo com um grande orquestra a acompanhar Olfield.

Seguiu-se a adaptação musical do conto de Songs of Distant Earth em 1994, Voyager em 1996 e Millenium Bell em 1999.

Nos ultimos anos Olfield varia entre albuns electrónicos e os acusticos numa busca constante de musicalidade.

Não tão atractivo como no início, mas sempre com carisma e originalidade, na minha opinião pessoal. Influente para dizer o mínimo.

Vs.

Desde segunda que não paro de pensar na sexta. No entanto, preferia que hoje voltasse a ser segunda e ainda faltasse alguns dias para sexta.

9/22/2005

Dancing Days

(Só tenho pena de não conseguir por a própria música)

Abra suas asas
Solte suas feras
Caia na gandaia
Entre nessa festa
E leve com você
Seu sonho mais louco
Eu quero ver seu corpo
Lindo, leve e solto
A gente às vezes
Sente, sofre, dança
Sem querer dançar
Na nossa festa vale tudo
Vale ser alguém como eu
Como você


Afinal, tudo isto são Dancing Days

9/21/2005

Felgueiras

Fátima Felgueiras vai ganhar as eleições na terra homónima. A justiça que retire a sua lição: o seu mau funcionamento (que vai de Vale e Azevedo e culmina no processo Casa Pia) faz com que a opinião pública se coloque do lado dos criminosos. Felgueiras é um case study, embora, infelizmente, ninguém venha neste país a aprender nada com este caso.

Sobre a TVI, a Prisa, o Governo, o Morais Sarmento, a AACS, ...

Isto faz-me um bocado de espécie. O PSD diz que a TVI não deve ser vendida jamais aos espanhóis. Argumenta Marques Mendes que Portugal deve preservar a sua língua, cultura e valores. Algumas questões a MM:

1. Qual a diferença axiológica entre os dois países. Estará MM à espera que a TVI ponha a Alexandra Lencastre às 3 da manhã e touradas o dia todo?
2. Saberá MM que quase toda a produção nacional da TVI é adaptada de formatos espanhois?
3. Saberá que a PRISA é um dos grupos de comunicação com mais credibilidade na Europa e que a TVI deve ser a televisão com menos qualidade da Europa?
4. Quanto à língua: será que MM acha que a TVI vai passar a ter emissões em Espanhol?
5. Em que medida é que a TVI presta serviço à cultura nacional em moldes que a Prisa não poderá prestar?

Atenciosmamente,
BFB

Ai, porque é que o meu avô não nasceu em Espanha

- O quem tem a dizer sobre o regresso de Fátima Felgueiras?
- Olhe, achei muito bem. Está mais nova, até mais gira. O Brasil fez-lhe bem.
- Mas perguntava-lhe se acha bem que ela volte a Portugal para se recandidatar...
- Ai, acho mal. O que é que ela vem cá fazer? Eu ficava no Rio de Janeiro. Mas deve ser amor à terra. Digo eu...

9/20/2005

Militares de primeira companhia

Gostava de saber mais no que concerne à participação de três militares num programa da TVI. Gostava de saber quem autorizou a sua participação e com que argumentos. Não é que me choque ver feijões verdes num programa de televisão (choca-me bem mais ver a Luisa, a Francisca e a Dulcineia a manifestarem-se em nome dos maridos), mas gostava de compreender os contornos deste "caso".

9/16/2005

Espero que os meus amigos que trabalham em publicidade nunca se revelem tão brilhantes

Na embalagem de sabonete Dove:
"INDICAÇÕES: UTILIZAR COMO SABONETE NORMAL"
Boa! Cabe a cada um imaginar para que serve um sabonete anormal.

Em alguns pacotes de refeições congeladas Iglo:
"SUGESTÃO DE APRESENTAÇÃO: DESCONGELAR PRIMEIRO"
É só sugestão! De repente o pessoal pode estar afim de lambê-la, como se fosse um gelado...

Num hotel que oferecia touca para o duche:
VÁLIDO PARA UMA CABEÇA"
Alguém muito romântico poderia colocar a sua e a da amada na mesma touca...

Na sobremesa Tiramisú da marca Tesco, impresso no lado de baixo da caixa:
"NÃO INVERTER A EMBALAGEM"
Oops!!! leu o aviso...é porque já inver teu!

No pudim do Mini Preço:
ATENÇÃO: O PUDIM ESTARÁ QUENTE DEPOIS DE AQUECIDO"
Brilhante!!!

Na embalagem da tábua de passar Rowenta:
"NÃO ENGOMAR A ROUPA SOBRE O CORPO"
Gostaria de conhecer a infeliz criatura que deu origem a este aviso

Num medicamento (pediátrico) contra o catarro infantil, da Boots:
"NÃO CONDUZA AUTOMÓVEIS NEM MANEJE MAQUINARIA PESADA DEPOIS DE TOMAR ESTE MEDICAMENTO"
Tantos acidentes na construção civil poderiam ser evitados se fosse possível ter esses Hooligans de 4 anos longe dos Catterpillars.

Nas pastilhas para dormir da Nytol:
"ADVERTÊNCIA: PODE PRODUZIR SONOLÊNCIA"
Pode não, deve!! Foi para isso que eu comprei!!!

Numa faca de cozinha:
"IMPORTANTE: MANTER LONGE DAS CRIANÇAS E ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO"
Será que lá os cães e gatos são ninjas disfarçados? Nunca vi nenhum mexer em facas!

Numa fileira de luzes de Natal:
"USAR APENAS NO INTERIOR OU NO EXTERIOR"
Alguém me pode dizer qual é a 3ª opção?

Nos pacotes de amendoim da Matutano:
"AVISO: CONTÉM AMENDOINS"
Mania de estragar as surpresas!

Numa serra eléctrica da Husqvarna:
"NÃO TENTE DETER A SERRA COM AS MÃOS OU OS GENITAIS"
Sem comentários...

9/14/2005

Os autarcas

Por razões profissionais, sou obrigado a tomar conhecimento de todas as inaugurações que os mui gentiles autarcas do nosso burgo gostam de oferecer aos seus eleitores. Da mesma forma, tomo conhecimento de extraordinárias medidas que os mesmos tomam para o seu concelho: piscinas gratuitas para velhos-crianças-deficientes-pobres-gordos-pais-funcionários públicos-e o que sobrar... Jardins-praças-largos-ruas-fontes-paragens-etc reconvertidos-recuperados-restaurados-e o Diabo a quatro... Comícios-campanhas-sessões-colóquios-simpósios-valha-me Deus... Assim é fácil chegar a algumas conclusões: aos autarcas não resta tempo para trabalhar; os autarcas nunca ouviram falar em défice ou restrições orçamentais. Por tudo isso, os autarcas são mesmo os mais chatos...

9/13/2005

Aviso aos navegantes

Esse ano vai sobrar um
Quem falou já morreu
Quem sabe dele sou eu
A vida quem dá é Deus

Quem é malandro não dá
Vidinha boa a ninguém
Malandro traz no cantar
A pinta que o canto tem
Briga com quem sabe mais
Não dá camisa a ninguém
Olha, aqui você faz
Aqui mesmo vai entrar bem

Esse ano vai sobrar um
Quem falou já morreu
Quem sabe dele sou eu
A vida quem dá é Deus

Vai sobrar um
Falou, morreu
Quem sabe dele sou eu
Vida quem dá é Deus


...na voz de Elis Regina

Domingo é o melhor dia para o aburguesamento

Entra-se em São Paulo pela Fernão Dias, a mais esburacada de todas. Zona Norte, o Tietê podre, pequeno e definhado. Dirige-se velozmente como se fossemos para o centro, ainda que saibamos que não. Cidade Universitária. Desviamo-nos no km12 depois da bomba de gasolina, segue-se como para o Morumbi. 3ª à esquerda, placas verdes e letras brancas. Mangueiras carregadas sobre o listrado amerelo nos passeios. Sol escaldante, smog imperceptível. Raposo Tavares, Sampa fica atrás. Verde imenso, escuro. Casas burguesas, Granja Vianna. Pássaros. Azul de piscinas. É Domingo.

9/08/2005

Então engana-se a malta assim?

E não é que o detonador utilizado por Sócrates afinal era... falso. "Momento simbólico", dizem. O tanas! Isto é enganar a malta.

O 11 de Setembro português acontece uns dias mais cedo

9/06/2005

Caligrafia

"ao Flávio Carneiro

Alcançar primeiro com os olhos a mesa branca da varanda onde miserável se esquece um caderno pautado em cuja carne abortaram-se alguns resumos, pé ante pé, dissimuladamente, transpor o piso de cerâmica da sala, transpô-la, a sala, ato que torna-se muito mais evidente e concreto na imagem dos pés sobre o piso de cerâmica, apoiar a mão direita com preciosismo (em nenhuma hipótese a esquerda) sobre uma cadeira-obstáculo que adormeceu no caminho, debruçar mais um sorriso sobre a capa do caderno onde se lê big explosion em caracteres irregulares coloridos e recordar que era o mais barato da papelaria, empunhar a caneta de tinta azul sobre o canto superior esquerdo da primeira página disponível e observar que um traço magoa a sisudez das pautas nuas, desenvolver o traço em curvas e retas e círculos de acordo com as regras há muito assimiladas numa caligrafia dita elegante e satisfatoriamente legível, decantar o oco da página com uma torrente delas, palavras, entrecortadas por suspiros virgulares e respirações profundas, mas, importante, tudo num único ímpeto que culmine na sombra então possível de um ponto redentor, encerrando questões, enterrando idéias e imagens e simulacros, o ponto final da vitória ou da derrota, tanto faz, o ponto final depois de uma assepsia sem parágrafo ou ponto-e-vírgula, o ponto final que recolhe imagens aleijadas e abençoa um ditongo decrescente que escorre moribundo, o ponto final dos pulmões vazios e dos olhos marejados, o ponto final do fim."


Adriana Lisboa

9/05/2005

A candidata

Maria José Nogueira Pinto representa a melhor pré-candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. Não tem os tiques de varina de Carrilho. Não é invisível como Sá Fernandes. Sabe melhor do que vai pelos Paços do Concelho do que Carmona. E fiquemo-nos por aqui, que é melhor.
Gosto de ouvir a Zézinha a falar sobre Lisboa e sobre as suas ideias sobre a dita. É certo que as Autárquicas não são propriamente o palco ideal para a grande política. Mas a Zézinha esforça-se: as suas ideias não são ocas; antes, contém uma elevada carga ideológica. Talvez seja isso que a trama. Eu, pessoalmente, gosto de ideias com ideologia. Para variar.
E gosto de a ver a falor sobre os dossier que conhece a fundo. Só uma excelente pré-candidata - a priori, sem hipóteses - se dá ao trabalho de estudar tão bem o que a esperaria. E aposto que faria mais "com o arrumar a casa" do que fará um dos dois que tantas e tão fartas "ideias" têm para Lisboa. Não é nem nunca foi por falata de ideias que Lisboa nunca deixou de ser o que sempre foi: uma cidade pobre.

Sem papéis

Sinto-me como se deveria sentir Tom Hanks naquele filme em que ficava retido no Aeroporto durante anos por não ter papéis. Saí de casa sem carteira, sem documentos. Sem chaves. Sem cartões. Tenho as moedas a fazer barulho no bolso das calças. Tenho duas notas solitárias a vaguear por bolsos incertos. Valeu-me o passaporte, o meu documento favorito. Acho que sem ele, seria difícil provar que eu sou mesmo eu. Que não quero burlar bancos, nem o Estado, nem sou cidadão ilegal-preso-por-três-vezes-por-roubar-velhas-e-ainda-ter-tempo-para fugir-aos-fisco. Comecei a manhã, o dia e a semana a pensar que cada um vale pelos papéis que tem. Ou que não tem.

9/02/2005

The Rolling Trash Can

Poderia ser o nome de uma nova banda de sucesso mas não...

É uma imagem que retenho....um flash de um regresso a casa onde encontrei o nosso amigo JL...

I9maginem...A rolling trash can....é tudo o que tenho a dizer!

9/01/2005

A Democracia segundo Luis Osório

Não é de agora que discordo amiúde de Luís Osório. Hoje, fui ao Causa Nossa, pois aconselharam-me a série Soares-Alegre. LO parece simplificar uma coisa que a meu ver é até algo complexa. Mas isto porque a questão extravasa para o plano emocional, e sobre essas não se discute. Mas pareceu-me que o LO acordou uma noite e pensou: "O senhor Manuel Alegre não tem direito a jamais aspirar a ser Presidente da República. Enquanto Soares quiser, jamais Alegre pode almejar tal. Depois de ouvido Soares, então será ouvido Alegre!" Parece-me que LO está a ser muito pouco democrático...

Políticos do passado, políticos de hoje - descubra as diferenças

Tenho falado com muita gente a quem a situação provoca franca apreensão. Como se esta rotatividade política não renovada fosse a prova da crise que o país atravessa. É oficial: não há soluções políticas em Portugal. Somos talvez um país pequeno, com escassos habitantes...
Foi assim com Jorge Coelho, foi assim com Marques Mendes, foi assim - e mais flagrantemente - com Sócrates (que do filósofo só agarrou o nome): à falta de «homens-chave», venha alguém disposto a tentar a sua sorte (como num tiro ao alvo de barraquinha de feira). Era assim, mas não denunciadamente. Nunca nenhum destes senhores declarou: "eu sento-me nesta cadeira porque se não for eu não é ninguém". Mas quando Soares repete que se candidata (depois de ter assegurado que isso seria um erro rotundo) porque é o único que pode fazer frente a Cavaco Silva, a vontade que dá é escavar um buraco e pedir licença ao senhor para nos mandarmos lá para dentro.
Mais: a eleição de Cavaco para PR seria um "passeio na Avenida da Liberdade" se ele não avançasse. "Um plebiscito". E Soares - então, sendo assim - concorre a Belém pela terceira vez.