7/27/2006

Of. 27706

Os ataques militares deviam ser precedidos de Ofício.
"Exmo. Senhor Todo-poderoso: Vimos por este meio pedir licença para lançar x rocket na direcção de Tiro, para ir calhar ali entre o mercado central e a mesquita halahala".
Se a burocracia lá de cima seguisse o nosso modelo, não havia cá guerras para ninguém.

Em nome de quem?

"Se lhes chamar animais, estarei a ofender os animais..." - dizia hoje, calmamente, uma libanesa que olhava para os escombros da sua casa. Tinha "histeria apática" escrito na testa.

7/11/2006

Ainda o telemóvel

É por isso que a forma mais brilhante de romantismo - o encontro fortuito, o imprevisto na esquina - se evaporou do mundo.
Nos anos 80 não era assim. Quando um adolescente e uma adolescente se encantavam um com o outro (ele sentado em cima de moto própria, capacete na mão e calça rasgada um pouco acima do joelho direito, ela de popa ao vento, blusão de ganga da Uniform e collant em tons de roxo), o máximo que ele poderia esperar era reencontrá-la no dia seguinte, mesmo sítio, mesma hora. Ligar-lhe para casa seria um cenário improvável e não desprovido de alguma falta de chá.
Hoje já ninguém se esforça para nada.
Abaixo os telemóveis, pá. Só andam cá a tornar-nos a vida mais baça. Sem brilho nem sonho.

A gente vê-se

O telemóvel tornou-se sine qua non das relações actuais, ditas modernas. Tornou-se, mais flagrantemente, o único factor da inclinação amorosa: se tem interesse então deve ligar. Se não liga, das duas uma: ou é para esquecer; ou tem problemas emocionais (reflexo de uma infância brutalmente traumática) de tal ordem que é para esquecer.
Hoje toda a gente tem um número - todos somos um número composto de 9 algarismos. Gostava de ver a cara do "dá-me o teu número" se alguém lhe dissesse: "não tenho telemóvel. Mas a gente vê-se". O mais certo era o outro lado dar tudo por perdido. Porquê? A noite é tão pequena! Já ninguém confia no destino.

Romantismo da vida

(Este blogue: ainda é vivo?) Faço tal e qual a mesma pergunta: por que são românticas as estações de comboio?
Por que será que me apetece sempre, de cada vez que lá vou, sentar-me num dos bancos baixos e escrever de enfiada, desenfreada, um romance? Que razão me leva a ver um tropa em cada esquina, uma namorada expectante em cada corredor, abraços dolorosos e adeuses que se sabem eternos?
Era capaz de ficar, ficar, ficar. Assim: sentada dentro da carruagem, a observar o lado de fora. Há qualquer coisa a transportar-me bem longe no tempo, mesmo antes de o comboio arrancar.
E a cada soar do apito, parece que se abre um mundo novo. E sim, talvez seja essa a resposta final: ninguém ali fica.
Tudo se explica pela efemeridade que se respira no ar. No fim de contas, a estação de comboio não passa de uma metáfora habilmente inventada para nos explicar a existência.