2/28/2005

Montsé

Não sei se os teus olhos são daqueles que mudam de cor conforme a claridade.

Havia uma fotografia tua pendurada numa parede lá de casa, não sei se te recordas. Estavas com uma camisola verde que combinava na perfeição com os teus olhos, olhos verdes, grandes e felizes. Os dentes irrepreensíveis que sempre rasgavam um sorriso. Esse era o tempo em que brincávamos com a tua pronúncia inglesa, em que gozávamos com os teus th’s e h’s em geral. Eram outros tempos, foi quando aprendeste a deixar que brincassem contigo. Agora, presumo, continuas em B. Dessa cidade, apenas ouvi dizer que fica a duzentos e tal quilómetros de Londres. Embora me recuse a acreditar que seja uma cidade feia, como alguém disse, tenho dificuldade em imaginar-te entre armazéns cinzentos e céus industriais. Prefiro pensar-te em Málaga, perto do mar, deixando que o sol vá mudando a tonalidade dos teus olhos ao sabor das marés. Deixando que se tornem verdes e brilhantes. Quando chegares de B. vou visitar-te. Espero que a vida e o céu dessa cidade sem luz não tenham mudado a luz dos teus olhos. É mais do que um pedido hermético.