2/17/2006

Numa festa SS

Excerto do livro "Camaradas de Guerra de Sven Hassel. A cena passa-se em Berlim numa festa SS em 1944, para onde um dos camaradas de Hassel, o tenente Ohlsen foi convidado.


" Houve alguém que deu uma pancada nas costas do tenente. Era um jovem Sturmbannfuhrer SS que tinha ao pescoço a Cruz de Ferro. Cosera numa das mangas uma fita negra onde se lia "Liebstandarte SS Adolf Hitler". Uma tremeda fila de condecorações enchia-lhe o peito
-Uma cerveja de Ingefar camarada? - perguntou o jovem major.
Era a primeira vez que naquela noite chamavam camarada ao tenente.
Espantado, Ohlsen levantou os olhos.
-Cerveja de Ingefar?- disse ele- isso faz-me nauseas.
Levantou o jarro, bebeu lentamente mas tossiu. O major SS começou a rir e meteu o nariz no jarro.
-Santo Deus, isto é forte!
-Claro que é forte. Para se viver tem de ser assim - acrescentou o tenente.
O major SS abanou a cabeça e olhou em volta da sala.
-Que porcaria!
Ohlsen não respondeu; o que pensava ainda era pior.
-Quando a guerra acabar teremos de prestar contas por tudo o que estes tipos tiverem feito - disse o major.
-Crucificam pessoas.
-É verdade - disse o SS. Inclinou-se para o tenente e segredou-lhe: - Sabes o que é que eu vou fazer camarada? Vou-me matar. - Olhou outra vez à volta e desenhou-se-lhe um sorriso irónico. - E vou matar-me aqui no meio desta horda!
-É uma parvoíce - disse o tenente.
-Talvez camarada, mas há-de-lhes fazer alguma coisa.
-Estás bêbado?
-Claro que não - afirmou o major SS, que teria quanto muito 25 anos. Era muito alto e magro. Os seus cabelo lembravam a cor do trigo maduro, os olhos cor do céu num dia quente de Agosto. Era muito belo.
Levantou-se e endireitou-se inteiramente:
-Olha lá camarada! - Dirigiu-se a um general carregado de condecorações da Primeira Guerra Mundial que ostentava ao meio o emblema do Partido Nazi. Uma honraria qualquer ornava-lhe a manga direita. O jovem oficial agarrou-o pelas bandas do casaco, onde luziam as Folhas de Carvalho de Prata. Sorriu e disse muito alto:
- SS Gruppenfuhrer, vai assistir a uma coisa muito divertida, a uma graça fora de série!
O general, que já tinha passado há muito os 60 anos, olhou irritado para o oficial esbelto e alto.
-E qual é essa graça?
O jovem oficial teve um riso encantador e contagiante. Ohlsen bebeu mais um bocado e atirou-se para trás. Sentia-se convidado especialmente para o que ia seguir-se
O major apontou com o indicador para o general.
-SS Gruppenfuhrer, o senhor é um criminoso, um infame criminoso nazi!
O general deu um slato para trás. O snague esvaíra-se-lhe do rosto inchado e ficou boquiaberto...o major sorria.
-Vocês os tipos dos campos e dos serviços da polícia são uma cambada de monstros e de assassinos, mas para vossa agradável surpresa venho informá-los de que perdemos a guerra. Os colegas do outro lado da frente vão a caminho de Berlim e vão depressa!
Uma mão agarrou-lhe o braço, que o major abanou brutalmente.
-Tire as patas sua besta!
O homem que o agarrara largou-o lgo e recuou um passo.
O jovem agarrou no revólver e carregou-o. Fez-se um silêncio de morte.
O general e os restantes olhavam hipnotixados para o pesado revólver do exército que o major tinha na mão.
-Tenho vergonha do uniforme que trago no corpo. - disse o major vagarosamente e pronunciando muito bem cada palavra- Tenho vergonha pela minha mãe alemã, tenho vergonha deste país que dizem ser meu, em verdade lhes digo que espero que os nossos vencedores sejam suficientemente sensatos para os fuzilarem a todos como um bando de hienas que vocês realmente são e que os pendurem com os vossos própeios cintos nas paredes dos vossos quarteís e das vossas prisões.
Apontou o revólver á berriga, depois enconstou-o e disparou.

O revolver caiu. Omajor balouçou um pouco mas não caiu. Agarrou então no seu punhal de parada, uma arma aguçada que pendia duma corrente que trazia de lado e, sem parar de sorrir enfiou-o lentamente nas entranhas, abrindo da esquerda para a direita uma grande ferida. O sangue corria-lhe pelas mãos. Tornou a balouçar como uma árvore na tempestade e por fim caiu de joelhos. "Por esta é que vocês não esperavam, assassinos!" parecia ele dizer, mas os lábios não se lhe abriram.
Levantou-se com um esforço enorme e logo a seguir tornou a cair. Olhou para o tenente, que continuava escarranchado na cadeira, levantou a mão com se estivesse a saudá-lo. Uma mão ensanguentada.
-É belo camarada, não é? - sussurrou.
Os olhos começaram a ficar baços, mas continuou a sorrir. Estenderam-o em cima de uma mesa.
Houve alguém que lhe abriu o uniforme e a parte de cima das calças. O moribundo olhou para o rosto barbudo do oficial que se inclinava para ele.
-Todos para trás! A minha pena é não os ter visto enforcados! Que dores Senhor, que dores...se calhar era uma parvoíce camarada....
(...)
O general lívido, inclinou-se para a mesa onde o tinham deitado, e o seu rosto, subitamente passara a ser o de um homem muito velho. Com um esforço que ninguém julgaria possível, o moribundo levantou-se com fúria. Saía-lhe sangua pela boca. Tossiu, gaguejou um insulto. O general ficou todo espirrado de sangue, o que o enfurecou. Ouviu-se a palavra "porcaria". Uma protituta chorava.
O major tornou a cair pesadamente sobre a mesa. Agora já não lhe doía...Sentia-se bem ...Muito bem mesmo...e morreu.