6/03/2005

Pior

(continuação do post anterior.) O pior nem é quanto abusamos de uma celebridade cultural. No fundo, nem é muito mau abusar-se de uma celebridade cultural. Tira-se tempo de antenas a outras celebridades de áreas nada recomendáveis. O problema reside quando se celebriza a prata da casa. Passo a explicar.

No Portugalzinho (culto, a dar-para-o-culto ou mal-culto) há um nome - e só um - para cada área das artes e letras lusas. Dois, no máximo, quando temos sorte (e mesmo assim, tem que ser um macho e uma fêmea, à laia de cotas). Por exemplo, o Ruy de Carvalho é o actor da nação (a Eunice Muñoz é a actriz da nação). O Siza é o arquitecto da nação (a pala do Siza é a obra da nação).

Depois temos os casos únicos (sem macho ou sem fêmea, depende). A Paula Rego é a mulher dos quadros do Portugalzinho. A Vera Mantero é a mulher das danças do Portugalzinho. A Agustina (que já despensa os Bessas e os Luíses) é a mulher dos livros do Portugalzinho. O António Damásio é o homem do cérebro do Portugalzinho. O José Gil é o homem da filosofia do Portugalzinho. O La Feria é o homem das revistas vistas no Portugalzinho. E mais uns nomes. Um para cada coisa, que isto da concorrência não fica bem na lusitana calmaria. Somos mesmo pequenos, chiça. Assim, até eu compreendo o défice.