3/07/2005

Domingo

Passaram em minha casa antes das 4 da tarde. Pedi um café com pouco movimento, pois era domingo (por domingo entenda-se o estado de espírito condizente com o calendário semanal). Fomos ao Maison, que servia de plataforma na minha adolescência: não voltara lá havia anos, poucas hipóteses de encontrar caras com quem partilhar o meu domingo. Ainda os cafés curtos não tinham chegado, já mais um conviva se sentara à mesa. Alguém que não via desde que entrara na faculdade, mas que não perdera aquela mania horrível de achar que me conhece como ninguém. Mesmo quatro anos sem me ver. Três quartos de hora depois, conseguimos sair com uma desculpa que, de tão esfarrapada, se tornava credível. Segunda tentativa, outro café. A mesma sorte. O Sequeira e o Hugo, com vontade de um domingo nostálgico. Vontade lhes seja feita: meia hora de nostalgias. Quando me deixaram em casa, a frase que ainda não havia sido dita: "Então, novidades?"

1 Comments:

Blogger M. said...

É uma fatalidade, não haja dúvida. Mas é realmente através dos outros e da ideia que fazem nossa que vamos construir a imagem que temos de nós próprios.
Sempre me deixaram algo nauseada aquelas pessoas com quem perdemos contacto ao tempo, mas que nem por isso perderam a presunção de nos conhecerem como ninguém.
Se por acaso as revemos, atacam-nos imediatamente com olhares cúmplices (capazes de nos eriçar a pele), frases sentidas - "sempre igual!", "opá, só tu!" - e perguntas retóricas com uma pontinha de falta de esperança no tom: "tu não mudas nunca?..."
E sempre me questionei sobre se este tipo de pessoas teria ou não algum fundamento nos juízos que faz levianamente. A verdade é que criaram em mim um conflito interior de quem-sou-eu-afinal que muita confusão me continua a trazer.
O problema está numa espécie de reflexo condicionado que ocorre quando estamos ao pé dessas pessoas: pressionados pelas suas ideias pré-concebidas, tendemos a comportar-nos exactamente da forma esperada. O que pode tornar-se bastante doloroso quando temos a nítida noção do que está a acontecer.

Deparamos-nos - final trágico! - com a terrível descoberta de que o ser humano, além de infeliz, é extremamente influenciável...

8:04 da tarde  

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