3/04/2005

A vida sem Teresa

Quando ele acordou, Teresa (talvez a mesma de Manuel Bandeira, aquela que tinha cara de perna) não estava nem voltaria a estar. Suicídio? Teresa - que à primeira vista lhe pareceu esquisita, numa segunda vez achou ter cara de perna e que, por último, o prendera para sempre - saíra da sua vida. Deixara de escrever livros enquanto ele a observava do sofá, deixará de fazer amor com ele no chão da cozinha, deixara de ser Teresa e de morar naquela casa amarela e grande, não me recordo se em Ipanema, Copacabana ou lá para os lados do Centro. Teria de ser ele agora a escrever o livro que ele não chegara a escrever, o livro de Teresa. Com ele, com Teresa Dois e o mundo de Teresa sem ele. Um dia, passou por uma rua onde não ia desde que conhecera Teresa. Viu a vida dela sem ele. Uns dias depois, deixou o livro, com uma pedra a pisar as folhas soltas, e desapareceu no mar. Para sempre, por uma questão de dignidade.