4/06/2005

Joaquim José dos Santos, o jogador (9)

Não que Joaquim José dos Santos alguma vez tenha tido especial inclinação para o jogo. O vício, todo o vício, era por ele abominado, pois não passava da distracção típica dos fracos. As virtudes eram a sua máxima, pois todos confiam num homem que não se deixa ruir sob a sombra do vício. E isso servia tanto para o jogo, como para a bebida e nem as mulheres alguma vez foram a fonte da sua perdição, mesmo quando o saldo bancário assim o permitia. Jamais o nosso homem foi visto entre as excentricidades dos bordéis ou perder-se pelas meretrizes ricas que se juntavam à mesa da roleta, que Joaquim frequentava por exigências da boa sociedade. Preferia dispor de uma ou outra amante fixa na cidade, que sustentava a troco de prazer e discrição. Também era, ao contrário de muitos outros homens de nome, zeloso quanto à descendência ilegítima que ia deixando no mundo: qualquer uma das suas amantes estava obrigada à partida, como se de um contrato se tratasse, a desembaraçar-se de qualquer bastardo que entretanto lhe viesse a dar. Uma experiente parteira se encarregaria de tornar intocável a fortuna que pretendia deixar, sem os dramas legais e morais que o adultério acarretava para si e para os seus, numa sociedade hipocritamente zelosa quanto ortodoxia que a sustentava.