6/06/2005

A P. vai ao Herman

Acabo de ouvir - e estou portanto chocado - da boca da P. que gostaria de "ir ao Herman". (Calculo que isto signifique ser entrevistada no Herman SIC, programa homónimo de Herman José, conhecido humurista portugués que se popularizou nos anos 80 fazendo caricaturas do quotidiano português e que, mais recentemente, teve alguns problemas com a justiça, nomeadamente por se relacional com adolescentes do mesmo sexo, notícias essas vindas a público dias depois do actor ter pintado o seu cabelo de louro-velhota-da-Praça-de-Londres.) Certo que sempre reconheci na autora da frase traços de personagem cómica ao género das sitcoms americanas, mas julgo que nunca ouvi uma coisa assim. Uma coisa é a P. misturar frases da Carrie com as da Samantha e combinar vestimentas incombináveis, saltitar em vez de andar pelos passeios e achar que está na tal cidade (acho que a P. tem preterido o sexo e ficado só pela sua urbana e cosmo vida). Mas daí até fantasiar com uma entrevista no Herman vai uma grande grande diferença. P. chega ao ponto de saber o que se sair com deixas estudadas, gestos bem pensados, pernas dobradas que são um desafio às leis da anatomia. E graça. P. acha que tem aquele savoir fair que só a nobreza ou aquelas que nasceram para ser beautiful people têm. Quando acabou foi intervalo, a P. mudou para a TVI, onde passavam as imagens repetidas de uma tia falida a discutir com um actor ex-toxicodependente que o devia ser à custa de aturar o la Feria. A P. então observou a cena com atenção e proferiu as derradeiras palavras: "não tenho dúvida nenhuma que se fosse prá quinta ganhava aquilo. É só uma questão de...". Quando a TVI foi para intervalo e a SIC ainda continuava a passar anúncios de produtos classe A e A+B a P. levantou-se e acendeu um cigarro à janela. Pensou um bocado e disse "amanhã tenho que ir ao banco. Tenho a merda do empréstimo atrasado dois meses". Pelo sim pelo não, resolvi dizer à P. que não tinha dúvidas que ela ser uma excelente entrevistada caso fosse ao Herman.