4/29/2005

História Passional, Hollywood, Califórnia

Preliminarmente, telegrafar-te-ei uma dúzia de rosas
Depois te levarei a comer um shop-suey
Se a tarde também for loura abriremos a capota
Teus cabelos ao vento marcarão oitenta milhas.

Dar-me-ás um beijo com batom marca indelével
E eu pegarei tua coxa rija como a madeira
Sorrirás para mim e eu porei óculos escuros
Ante o brilho de teus dois mil dentes de esmalte.


(...)

Interrompo aqui. Este é um dos meus poemas preferidos do V.M., uma tragicomédia terrivelmente bem humurada que não me canso de ler. É a história de uma obsessão, com a graça e colorido das séries B. Ele quer, ela não quer assim tanto. Ele compra-lhe coisas, ela aceita. Ele quer casar (?), ela não. Eu até acho que ela estava a pedi-las, mas não era preciso que o senhor do descapotável chegasse a tanto. Uma dezena de estrofes abaixo, continua:
(...)

Então fico possesso, dou-te um murro na cara
Destruo-te a carótida a violentas dentadas
Ordenho-te até o sangue escorrer entre meu dedos
E te possuo assim, morta e desfigurada.

Depois arrependido choro sobre o teu corpo
E te enterro numa vala, minha pobre namorada...
Fujo mas me descobrem por um fio de cabelo
E seis meses depois morro na câmara de gás.


Vinicius de Moraes, que me desculparia certamente a interrupção.