4/15/2005

Os Honórios do Desterro (12)

Guilhermina Paula Trindade Leite de Castro foi o pomposo nome que José Honório, dos Honórios do Desterro, escolheu para dar à sua filha primogénita, por quem esperara muitos dias e muitas noites. A mulher demorara quase uma década a dar-lhe um herdeiro e, talvez por isso, ele pouco se importasse com o facto de lhe sair uma fêmea donde deveria sair um varão forte e saudável. Mas a pequena parecia robusta e em casa dos Honórios sempre se apregoou que as prendas de Deus devem ser aceites sem reticências. Além do mais, sempre era melhor uma herdeira mulher do que nenhuma herdeira e, afinal de contas, um homem não constituía riqueza para a levar consigo para o caixão, mas sim para a deixar aos cuidados de quem a soubesse, senão multiplicar, pelo menos não espatifar. O seu genro seria com certeza alguém com olho para os dinheiros, um sujeito capaz de gerir o património. Ele mesmo se encarregaria de escolher um homem honesto e convenientemente ambicioso, de razoáveis famílias, com quem casasse a sua pequena.

Mas Guilhermina Paula, filha do Honório, aparentada com os Honórios do Desterro, foi mimada o quanto baste para nunca deixar ninguém escolher por ela. Com toda a conveniência, pois tornou-se naquele género de mulher que jamais imprime o tom de confronto a qualquer situação, embora soubesse sempre como levar a água ao seu moinho e com o mínimo de desperdício possível. Esse era, aliás, um conceito que Guilhermina Paula desde muito cedo soube aplicar às relações humanas; do rol de desperdícios faziam parte todas as discussões que pudessem ser evitadas, todas as zangas inúteis, todas as exaltações e polémicas que não lhe resultassem em benefício. A pequena do Honório preferia utilizar a paciência com que fora abençoada por Cristo Nosso Senhor da melhor maneira possível, ou seja, ao serviço da sua teimosia e inteligência.