6/08/2005

O timing da vida

Desculpe-se o registo diarístico: na segunda-feira tivemos reunião de estágio na Católica. Voltei à universidade para descobrir que não tenho saudades. Até há bem pouco tempo, suspirava ao pensar nos anos universitários, da vida descontraídamente inócua desses tempos felizes. Regressava de metro quando me lembrei: as cartas - jogava agora umas. Sentarmo-nos em grupos de quatro (quatro é bom, cinco é demais) nas mesas redondas do bar, fazendo ritmos impacientes com as mãos no tampo da mesa, enquanto um colega mais lento distribuía treze pedaços de papel que nos fariam ora felizes ora angustiados. Trocar olhares imperceptíveis (ou não) com o parceiro; fazer carreirinhos de vasas em direcção ao meio da mesa; esperar pela quinta jogada para pousar educada, delicada e cínicamente o jogo na mesa, apontando a evidência: é tudo meu. É tudo meu!
Estas recordações fizeram-me sorrir (Entrecampos - há correspondência com a Azambuja e outros arredores). E, num repente doloroso, senti que não me apetecia sentar-me numa mesa a jogar; que não tinha vontade de lançar nervosamente um Rei de corações; que as cartas já não eram o meu modus vivendis.
Um exemplo que se estende a tudo na vida: aos amores, aos trabalhos, aos interesses. Tudo perde actualização. Há quem diga que ainda bem, que se assim não fosse estaganaríamos no tempo. Mas as cartas... que pena já não fazerem sentido.
Muito injusto, o timing da vida. Diria mesmo cruel. Alguém anda a brincar connosco lá em cima.