4/16/2005

Sábado A.M.

Gosto das manhãs de sábado. Talvez porque não são propriamente uma constante na minha vida. Talvez porque são geralmente solarengas. Talvez porque – afinal – até gosto de manhãs. Hoje, apercebi-me que as manhãs – especialmente as de sábado – têm sido por mim subvalorizadas ao longo dos tempos. É tudo uma questão de observação. Por volta das dez da manhã, refastelei-me num café de Lisboa devidamente artilhado com os jornais do dia e, enquanto rasgava o celofane do maço de tabaco e respondia torto ao empregado que me perguntava se desejava o café do dia – afinal eu sou apenas um iniciado nesta coisa das manhãs –, dediquei-me a observar a exuberante fauna madrugadora. Absolutamente fascinante. Na mesa de trás estava o Eduardo Prado Coelho, já com meia dúzia de jornais, cinco revistas e dois livros em processo de digestão intelectual. Até aí tudo normal. Afinal, era só o Eduardo. Cinco minutos depois, estava eu a meio da minha bica curta – que não era nem da Etiópia, nem de Moçambique, nem do Brasil, mas apenas e somente um simples e ingénuo café-curto-ponto – entra a estrela da manhã que me fez passar uns bons dez minutos a pensar no reino de Pasargáda. Alta, os cabelos presos num cacho que lhe deixavam a descoberto os olhos verdes-de-um-verde-que-não-há, lábios grossos. Sentou-se numa mesa próxima, pediu uma torrada e uma galão escuro, abriu o jornal, fechou o jornal, espreguiçou-se imperceptivelmente, viu a última página do jornal, dobrou o jornal, colocou a as duas mãos de dedos finos a apoiar o rosto e ficou a olhar para as árvores lá fora. Parecia estar a degustar aquele momento solitário. Chegou a torrada, comeu a torrada, bebericou o galão escuro onde deitou apenas meio pacote de açúcar, limpou a boca, amarrotou o guardanapo, pô-lo no copo onde houve galão escuro e meio pacote de açúcar. Pagou, saiu, voltou atrás, pegou no jornal que ficara esquecido na mesa, sorriu envergonhada, saiu novamente. Sábado pode ser um dia como os outros. Afinal, todos os dias são mais ou menos iguais. Mas não há manhãs como as de sábado.

1 Comments:

Blogger Joao said...

Gostei

2:55 da tarde  

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