10/05/2006

Nem do carro eléctrico

Ela nunca o tinha visto mais preto (o nosso racismo sem limites). "Não se conheciam nem do carro eléctrico!" (expressão brilhante que caiu em desuso desde os tempos da Avenida)
Rapariguinha de bairro, para mim andar de eléctrico continua a ser um acontecimento. Quando não vai lotado, quando podemos sentar-nos à janela e abri-la sem que nos caia o vidro em cima, quando conseguimos sentir a potência do motor na subida do Combro ou a velocidade vertiginosa nas descidas, aí tomam-se grandes decisões de futuro.

Transportes

O eléctrico é de longe o mais frustrado: nunca conseguirá fazer uma ultrapassagem.
A frustração que lhe é inerente ajuda a explicar os muitos desacatos e toma lá-dá cá verbais em que maquinista e passageiros mais irascíveis se envolvem.
Os turistas podem encarar o eléctrico lisboeta como marca física de Lisboa e espelho da nossa personalidade.
No outro dia, eléctrico cheio, motorista em berros "oh cavalheiro-cavalheiro, não me levante a voz qué pra ver s'a gente s'entende, cavalheiro...!!", a turista ao meu lado só conseguia ria (mesmo percebendo zero). Tive vontade de lhe perguntar (em russo correcto): "Então?, está a gostar da nossa maneirazinha de ser?"