7/31/2005

Outros trechos, contra males de inveja

Para o FJV.

"Quando cheguei na Vara Criminal, dona Neide estava sentada num banco na antesala do juiz.
Dona Neide, a senhora se lembra do que combinamos, não lembra? O seu Rosalvo cruzou a rua subitamente...
O nome dele era Raimundo, disse ela, me interrompendo.
O seu Raimundo, continuei, atravessou a rua fora da faixa e surpreendeu a senhora, que usou os freios mas mesmo assim não conseguiu evitar o atropelamento. É isso que a senhora vai dizer ao juiz, está bem? Pouco depois, fomos chamados à presença do juiz. (...) Muito bem, dona Neide, disse o juiz, quero ouvir um relato sucinto dos fatos. Como foi que ocorreu o atropelamento? A senhora já prestou um depoimento na polícia e eu gostaria que a senhora falasse novamente sobre essa ocorrência. (...) A coisa aconteceu assim, seu juiz. Eu estava distraída falando no meu celular, com umavizinha minha que fezoperação da vesícula, uma operação complicada porque ela teve uma crise, cólicas fortíssimas, e foi internada.
Dona Neide, atenha-se aos fatos, alertou o juiz, a senhora estava dirigindo distraída, falando no seu telefone celular e...? O seu Raimundo, coitadinho, apareceu na minha frente, e eu o atropelei, disse dona Neide (...) Abri a boca para falar, mas o juiz fez um gesto com a mão aberta, como dizendo que se eu falasse alguma coisa ele ia me expulsar da sala.
Dona Neide, disse o juiz, na polícia as suas declarações foram diferentes.
Eu fiz o que o doutor Mandrake mandou naquela ocasião, disse dona Neide, mas hoje ele disse para eu falar a verdade, foi um alívio para mim."

7/30/2005

A morrer desde 1922











I can't believe the news today
Oh, I can't close my eyes
And make it go away
How long...
How long must we sing this song?
How long? How long...
'cause tonight...we can be as one
Tonight...

Broken bottles under children's feet
Bodies strewn across the dead end street
But I won't heed the battle call
It puts my back up
Puts my back up against the wall

Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday

And the battle's just begun
There's many lost, but tell me who has won
The trench is dug within our hearts
And mothers, children, brothers, sisters
Torn apart

Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday

How long...
How long must we sing this song?
How long? How long...
'cause tonight...we can be as one
Tonight...tonight...

Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday

Wipe the tears from your eyes
Wipe your tears away
Oh, wipe your tears away
Oh, wipe your tears away
(Sunday, Bloody Sunday)
Oh, wipe your blood shot eyes
(Sunday, Bloody Sunday)

Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday

And it's true we are immune
When fact is fiction and TV reality
And today the millions cry
We eat and drink while tomorrow they die

(Sunday, Bloody Sunday)

The real battle just begun
To claim the victory Jesus won
On...

Sunday Bloody Sunday
Sunday Bloody Sunday...

Cuba Libre

Claro que o regime castrista é mau. Claro que Fidel é um tirano. Claro que todos ficámos chocados quando vimos García Marquez a defender o poder de Havana. Claro que sim. Mas como ficará Cuba depois da morte de Fidel? Igual a Miami? Um grande resort cheios de campos de golfe ao melhor estilo da Florida? Triste destino o de um país.*

*Post a propósito do recém-nomeado comissário de Rice para a oposição ao regime castrista, encarregue da propaganda e do endurecimento das medidas contra Fidel (leia-se, fortalecimento do embargo).

Voyeur

Fez-me confusão ouvir dizer que as janelas de Amsterdão não têm cortinas. Que quando passeamos - e não resistimos a olhar lá para dentro - vemos os frames das vidas alheias. Um homem a ver televisão. Uma mãe que manda os filhos para a cama. Pessoas a acabar de jantar.

Tive razão, posso falar...














Tive razão
Posso falar
Não foi legal, não pegou bem
Que vontade de chorar, dói
Em pensar que ela não vem, só dói
Mas pra mim tá tranquilo, eu vou zuar
O clima é de partida, vou dar sequência na minha vida
E de bobeira é que eu não estou,
E você sabe como é que é, eu vou
Mas poderei voltar quando você quiser.
Demorô vai ser melhor...

Minuanos

7/29/2005

Os meus amigos e o investimento público

Quando Sócrates anunciou o seu Plano Tecnológico, eu pensei logo que aquilo poderia ter alguma coisa a ver com educação. Enfim, como optimista que sou, achei que o tal Plano serviria a uma reforma num dos sectores que pior vai no País: a educação. O sector estrutural que precisa realmente de investimento (público, entenda-se). Contudo, enganei-me. Todos parecem mais entusiasmados com comboios de alta-velcidade, aeroportos e cata-ventos. A educação continuou fora das preocupações dos governantes. Entende-se facilmente: não dá votos, não aparece na televisão, só daria que falar dentro de dácadas. E os governantes portugueses têm pressa em mostrar o que valem e são pouco dados a medidas… estruturantes. Contudo, é com grande espanto que vejo muitos dos que neste blogue se manifestaram a favor da Ota (calculo que também a favor do TGV, dos cata-ventos,…). Julgava-os com outra visão para o País, pensava que ainda não se tinham esquecido da má qualidade do ensino (afinal, ainda o estão a acabar), da necessidade de reformas sérias, não populistas, não demagogas e verdadeiramente pensadas para mudar a face deste País. Afinal, nem eu votava nos meus amigos. Que desilusão.

A polémica

A M. é uma blogger sensacional. Consegue, com apenas duas linhas e meia, criar uma discussão titânica e fazer disparar os comentários. (A propósito, já foram batidos todos os records.) No entanto, parece-me que nesta discussão tem faltado um pouco da harmonia necessária para que cada um leia antentamente o que predecessor escreveu, antes de gritar o SIM ou o NÃO à Ota. É que o que está aqui em causa não é se faz falta um aeroporto: todos já sabemos que a Portela, a ser suficiente, só o será até ao final da década e um novo aeroporto fará parte das necessidade. O que convém aqui discutir é o custo-oportunidade, ou seja, se faz sentido gastar grande parte do pouco que temos num aeroporto. E isso não tem sido discutido.

7/28/2005

Sem título

A fotografia foi tirada na Rua das Flores. O escritor, uma placa ao fundo, um sorriso forçado e estrangeiro. Uma manhã cinzenta e espessa. A mesma manhã como seria em Salamanca, perto do meio-dia. Saía-se da biblioteca, passava-se pelos claustros, seculares e jesuítas. As paredes de pedra velha com inscrições góticas de tinta escura, sanguínea. A rua naquelas manhãs sem música. Manhãs espessas de Salamanca. De Lisboa.

Noir

"Nos Estados Unidos, o romance negro tende a reaparecer em períodos de forte expansão económica. Aparentemente, todos são prósperos e felizes. Mas a realidade é diferente, o que justifica a necessidade do "negro", que denuncia as imperfeições de uma sociedade onde a disparidade entre ricos e pobres torna-se mais chocante de dia para dia. A função do romance negro é a de trazer à boca de cena, em plena luz, o que se prefere esquecer: os excluídos do crescimento, cujas perspectivas de futuro são quase inexistentes, aqueles cuja "continuação legítima da felicidade" foi quebrada irremediavelmente. Para dizer mais simplesmente as coisas, o romance negro é a má consciência, aquela voz que murmura ao ouvido que a vida não é cor-de-rosa, antes pelo pelo contrário"*

A ler num dos melhores blogues do momento.

O Brasil que ainda se supreende


A nós, portugueses, custa-nos compreender a crise que se abateu sobre o Brasil. A corrupção nunca constituiu uma surpresa na nossa conceptualização tropical e não seria no governo Lula que a tradição deixaria de ser o que sempre foi. Nós, portugueses, deixámos outras coisas por terras de Vera Cruz para além da sífilis. Por isso, a corrupção faz parte do charme tropical e é uma extensão da nossa própria alma, história.

Não obstante, a situação actual é diferente, mais pesarosa. Se para os europeus Lula nunca deixou de ser um sujeito mal barbeado, comuna e com uma não injusta voz de bagaço, os brasileiros viam nele o último remédio para os males de uma sociedade cansada e um futuro sempre adiado.

Um reino para as promessas
A desilusão foi rápida. Em Janeiro de 2003 já se sabia que a viragem não passaria dos discursos ainda inflamados de quem finalmente conquistou o poder. O Lula-presidente sempre foi um político egocêntrico que viu na Presidência e no poder a sua quimera, enquanto o seu objectivo deveria ser melhor o funcionamento das instituições que passou décadas a criticar. Em poucos meses, o antigo operário de São Paulo mostrou que não estava minimamente preparado para gerir um país difícil e que não era mais do que um golpe daquilo que passara anos a combater: o marketing eleitoral.

O supra-líder: as novas formas da arrogância
Além de Lula nunca ter estado preparado para ocupar o Palácio da Alvorada, o presidente brasileiro sempre demonstrou desrespeito pelas instituições. Sempre achou que o seu partido só agora se instalou poder – e para ficar – porque só agora a sociedade brasileira percebeu onde estaria a sua salvação. E o PT seria essa salvação: um estado ideal e, acima de tudo, ad enternum. Em 2004, numa altura em que o MST ressurgia com o seu “Abril Vermelho” – radicalizarão da onda de invasões –, a primeira-dama Marisa plantava nos jardins do Palácio uma enorme estrela vermelha. Resta dizer que, para além da gaffe institucional, toda a área administrativa de Brasília, na qual se inserem os jardins da Alvorada, são zonas onde não se pode mecher, segundo ficou acordado entre Oscar Niemeyer e o Estado brasileiro. A estrela ajardinada, símbolo do PT, é materialização do desrespeito de Lula pelas instituições que, na sua cabeça, estão abaixo de si e do seu valor de ex-operário messiânico que finalmente chega ao poder.

Exemplos deste e de outros géneros proliferaram como cogumelos no governo Lula. O Fome Zero não passou de uma medida tão mediática quanto socialmente infrutífera. José Dirceu – o amigo de sempre, ex-guerrilheiro, antigo exilado político que teve mesmo de se submeter a uma operação plástica para fugir às garras dos anos de chumbo e, finalmente, número dois do governo – teve de abandonar o governo depois de envolvimento em esquemas estranhos. Mas Dirceu só saiu à segundo vez que meteu a pata na poça – ou o pé na jaca, como preferirem –, uma vez que Lula não abandona assim os seus amigos. Já falei aqui sobre desrespeito pelas instituições?

Tudo isto faz com que não me surpreenda minimamente com este escândalo que atravessa o governo e a sociedade em geral. É um esquema corruptivo que não serve apenas para encher os bolsos dos governantes, mas sim para financiar um partido, suas campanhas e seu projecto. Lula tem um projecto de socialismo que deverá ser sobretudo mantido, mesmo que sobre tudo, sobre todos. É desta que a República cai!, grita-se em Brasília, especialmente nos corredores da comissão de inquérito, o local indicado para assistirmos aos telhados de vidro que se expõem despudoradamente.

O que se perde para sempre na República
Lula diz que de nada sabia. Vivam os crédulos!, digo, mas escuso-me a discutir aqui o assunto. A questão que aqui me traz prende-se mais com os efeitos desta crise. Esta era a última oportunidade que os brasileiros davam à política, aos políticos, ao país. Essa oportunidade esgotou-se durante o último mês. As transformações politicas e sociais pelas quais o país passará nos tempos vindouros é para todos uma incógnita. Mas Lula queimou a última nesga de esperança. O histérico e incorruptível líder apercebe-se dos seus pés de barro. Para os brasileiros, esta é a surpresa.

Jogo de Damas


Muito mais importante do que decidir como mover a nossa peça, o bom jogador deve antecipar a jogada do adversário. Na política, passa-se o mesmo. Cavaco reflectiu bem o seu jogo e o jogo do adversário. Só não contou com a surpresa de uma nova peça.

7/26/2005

Alguém que me elucide

Não é absolutamente indispensável que uma (suposta) nação europeia (moderna) tenha o seu aeroporto dentro da cidade? Por favor, senhores...

Coisas que se vêm nas ruas

Há publicidade que nos deixa a pensar. A pensar em quem a faz. Especialmente a publicidade de outdoor, uma área da publicidade que parece ter recebido a bomba H anti publicitários criativos. Que mentes são responsáveis pela invasão visual das ruas? Que peregrinas razões levam pessoas a escrever determinadas coisas? Enfim, já perceberam a ideia. Três exemplos que têm vindo a ocupar a minha mente nos últimos dias. (O trânsito continua mau, deve ser da crise.)

1. Um banco que não vou nomear é responsável por um anúncio que classifico como… engraçado. Cinco minutos antes de me deparar com o dito anúncio, o Multibanco cuspiu um papelinho que dizia que o meu saldo se encontrava em 2 (dois) dígitos. A seguir, ou seja, cinco minutos depois, aparece o Mourinho a dizer que eu devia ganhar como ele. O banco em questão devia ser severamente penalizado pelos clientes, uma maneira de acabar com a graçola.

2. Além do fundo “mala educación” – na versão do Pedro Mexia – que o Carmona escolheu para os seus cartazes, as enormes letras disseminam erros do mais básico português. Olhe as vírgulas.

3. Como moro nos subúrbios, os cartazes políticos ainda são piores. Em Odivelas, estou indeciso entre um senhor que me diz que é um de nós e uma senhora que grita “confiança e tradição”. Apetece dizer ao senhor: se você for um de nós, então não vale a pena pô-lo a ganhar o que o senhor quer ganhar. Para isso, mais vale dar os euros, os carros oficiais, os almoços pagos e mais umas coisitas aos da terra. Assim, fica tudo em casa. Já à senhora das palavras de ordem, confiança não se pode ter por uma desconhecida e… tradição é o que não convém mesmo! Estou cansado da tradição de não ter vidrões, papelões e afins no espaço de quilómetros; das obras que nunca acabam; de terem feito um condomínio no lugar do projectado parque. Enfim, não me fale em tradição, minha senhora.

O único anúncio giro que vi foi numa loja de motos um bocado manhosa lá para os lados do centro. As letras eram feitas à mão e estavam coladas nos vidros da montra. Dizia assim: “caso viesse de moto, não perdia tempo a ler isto”. E os políticos a pagarem o que pagam aos publicitários…

7/25/2005

Killer in the classroom (um post desactualizado)

Era manchete de um qualquer tablóide inglês nos dias que se seguiram aos atentados (os primeiros) de dia 7. A polícia britânica descobriu que um dos bombistas era educador numa escola especial, o que logo gerou a indignação geral: "O mr. Khan?! Não pode ser, enganaram-se, que grande desgraça!" - bem ao jeito da indignação dos funcionários Casapianos quando estoirou a bomba do Bi-bi... Porque era ao "sr. Silvino" que sempre se recorria quando alguma coisa era precisa. Ah. E os miúdos adoravam-no(!).
Entre o choque e a reacção natural de descrência nas instituições, nos homens e na sociedade em geral (muçulmanos aparte), apercebemo-nos de que existe um rótulo muito especial colocado àqueles que trabalham com crianças. Como se o carácter educado pela dureza da sociedade dos mais grandinhos fosse contagiado pelo estatuto angelical dos pequeninos. São autênticos pequenos grandes anjos imaculados, enviados à terra para apoiar o crescimento dos futuros adultos.
Depois acontecem destas. E parece que o mundo está ao contrário. Só que - típico dos mecanismos sociais dos media - a inversão que logo é feita também roça ligeiramente o exagero. Que o senhor fosse terrorista é um facto atroz, como tudo o que é terrorista. Que trabalhasse com crianças é mórbido, sim senhor. Mas não está inerente que fosse atacar os alunos ou mandar a escola pelos ares só por ter acordado mal disposto nesse dia.
Trata-se de um fanatismo com alvos bem definidos, assustadoramente racional, num paradoxo confuso. Afinal, qual dos dois lados será mais racional? As democracias ocidentais ou o fundamentalismo islâmico?

7/20/2005

Música é vida

Às vezes sentimos que certas coisas só acontecem connosco. O post deste rapaz sobre a sua "salvação musical" deu-me que pensar. É que também eu, nos meus tempos aúreos de adolescência encantada, acreditava que no mundo só existia um tipo de música. Ouvia-a, ouvia-a, ouvia-a... até que à 10ª escuta descobria que tinha atingido um qualquer limite legal do audível, que não suportava mais aquela lenga-lenga outrora absolutamente vibrante, que quem a tinha inventado fosse dar uma volta mais a sua musicata nauseante.
O engraçado é a forma como essa cultura musical me tornava infeliz. Acho que há toda uma conjuntura inerente ao universo musical a que nos ligamos - qualquer coisa como "Diz-me o que ouves, dir-te-ei quem és". E a verdade é que eu tinha perante a vida uma atitude bem diferente da actual.
Aquilo que sei é que hoje me basta ir pela rua com uma música nos ouvidos... vamos supôr: qualquer uma dos Cure - qualquer uma delas -, para ser feliz.
Viajo por estes mundos não há muito tempo, mas é irreversível. Estamos apaixonados e dá-me ideia que desta é de vez. Eu e o alternativo.

7/19/2005

Loira(na pastelaria)

Loira- boa tarde, tem pasteis de nata?


Senhor da Pastelaria- Acabaram de sair!


Loira- Ahhh e pode-me dizer quando voltam?

...

Adenda

Alguns dos pontos que abordei hoje no post sobre a India estão optimamente explicadas no excelente artigo de hoje de Teresa de Sousa. Especialmente a última frase:

"Preservar os nossos valores e, sobretudo, não confundir os inimigos com os aliados."

E muito do que diz T. de S. hoje se enquadra exactamente numa notícia de recente do mesmo jornal (edição online).

Al-Qaeda: Europa tem um mês para retirar tropas do Iraque

Da série Urgências



PS - Note-se a hora em que escrevo este post. São 16h28 nos subúrbios de Lisboa.

Orwell sabia do que falava

A excepção indiana

O Bush foi à India. Até aqui, óptimo: para quem nunca saiu do Texas até ao fim do milénio, estas viagens só enriquecem a mui nobre alma presidencial. Mas certas viagens presidenciais causam em mim, volta não volta, algum espanto. (Ainda não digeri bem a visita do Lula ao Kadafi.) Pois bem, voltando ao Bush, parece que a sua visita a Nova Delhi está a causar celeuma em Washington DC e noutros pontos (até mais civizados) do mundo (dito) civilizado. É que a visita serviu para a administração norte-americana comunicar que passará a partilhar com a India tecnologia nuclear. Mas perguntam os senhores leitores: "Mas a India assinou o tratado de não proliferação nuclear? O tratado que pressupõe que os avanços nucleares sejam supervisionados pela agência competente?". Ao que se responde: não. Um rotundo não. E volta o leitor: "Não estou a perceber. Então os americanos condenam qualquer avanço nuclear, mesmo aqueles que se inserem num quadro do Tratado, e agora vão cooperar com a India?". Outra resposta rotunda: sim. Então é assim: o sr. Bush, sempre bem aconselhado (mesmo com o Karl Rove entregue à bicharada), decidiu que a India é o aliado do momento na região e a lógica desta "cooperação" é travar o crescente poder da China e diminuir a força japonesa. Assim, a melhor maneira para lograr os sues intentos é cooperar nuclearmente com a India. Esqueceu-se o sr. Bush foi de uma coisinha ou outra. Existe, há já uns anos (ninguém o avisou, será?) um grupo de 40 nações que costumam reger em conjunto as questões nucleares. Ora o Bush nem perguntou o que essas (porra, também são só 40!) nações pensavam do assunto. O sr. Bush também se esqueceu de outro assunto pequeno: é que, após o 11 de Setembro, o Paquistão é um dos principais aliados de Washington na "guerra contra o terrorismo". Ora talvez o Musharraf não ache muita graça a esta nova dança de amigos. Finalmente, uma só constatação: o mundo vai achar muita graça a esta excepção. Bush não percebeu que em matéria de armas nucleares não se brinca e abriu um precedente que vai dar que falar nos próximos tempos. Afinal, ele percebeu mal toda a lição do Afeganistão talibã. Pensará ele que combater os inimigos que a sua própria nação armou é um raio que jamais cairá no mesmo sítio?

Sobre o Brasil (de Lula)

Perguntaram-me durante o fim de semana porque não tinha ainda escrito sobre a CPI dos Correios. Respondi que já tinha escrito tudo muitos meses atrás.

M.

Gostava de te chamar M., quando para os outros m não passava de uma letra no alfabeto. Eras a M. que gostava do Inverno, a M. que apostava mais vazas do que as que fazia, a M. que se desafiava. Agora, chamar-te M. não é mais do que seres o que sempre pensei que viesses a ser. A M. que me espanta por tanto saber, a M. que traduz aos jantares aquilo que sinto durante a semana. Continuas a ser a M. onde muitas vezes se espalha o que sou. A mesma M. cujas idiossincrasias – que palavra tão pouco poética – te tornam num poema do Vinicius.

7/18/2005

À conversa com um blogger especial

Depois de o meu post anterior me ter proibido terminantemente toda e qualquer exposição sobre a minha pessoa, perdoe-se este agora. Mas não resisti.
Eu e o amigo Bruno (a quem curiosamente chamo Claúdio) temos este entendimento quase bizarro em algumas coisas. Estava a ler as suas respostas a um inquérito, quando de repente fui invadida por aquele sentimento de identificação avassalador: "Pior sentimento do mundo?", era perguntado, como quem espera a resposta... "Perder o autocarro" ou "Chegar a velho e sentir que a vida não foi bem aproveitada". E vai aquele malandro: "Quando me desiludo comigo." Olha que tu queres ver?..., alertou-me aquela vozinha (não confundir com avózinha - que estupidez, pá...) que a gente tem cá dentro.
Em tempos atribulados de descobertas interiores, descobri ontem que o pior sentimento do mundo é a self-frustration. De quem idealizou uma coisa e depois se desencanta. Detesto «acordar» esbofeteada por mim própria.
Luto desde adolescente contra a ilusão amorosa (...) e tenho-a bem enraízada. Mas as outras? A profissional? A da amizade, quando somos traídos? A fúria que se sente por pensar que fomos ingénuos é pior do que a desilusão. Mas é a desilusão levada ao extremo. Pensa nisso, querido.

Eu

"Detesto pessoas que falam de si próprias", disse certa vez a minha prima-irmã. Eu também. Irrita-me e constrange-me, envergonha-me e faz-me pena. Uma miscelânia de sentimentos com que nunca poderei confrontar esses pequenos seres menos inteligentes - porque são, não há como negá-lo -, de forma a dar-lhes alguma lucidez.
E no momento em que isto escrevo, qual ironia certeira, entra no msn um transeunte (cuja identidade não verifiquei)com o seguinte anúncio público: "Cortei o cabelo!". Tá boa...

7/10/2005

Produto chines de qualidade...venha ele!

Esta não me importava de....importar;P

7/09/2005

Do lado de fora

Só uma razão de grande envergadura me faria escrever às 4h51 de uma sexta-feira. Pois é, hoje não sai com estas pessoas (nem esta). O que, e tenho que vos confessar, foi uma pena. Fui a Santos um bocado, vi dois miúdos a esvaírem-se pela boca, dois gajos à porrada, uma miúda a ficar sem o seu telemóvel depois de ter passado por ela um ciclone de pretos, tive que acabar por admitir à força que a Informática é a profissão do futuro e ainda tive de ouvir uma palestra sobre Kafla de um recém-convertido gótico. Assim, ás três da manhã já estava em casa, a perguntar qual a ideia peregrina que me levou a Santos naquela noite. Pois bem, mas vamos ao que interessa. Por volta das 4h liga-me este senhor aos berros, a perguntar onde andava eu, ect e tal. Bêbado como um cacho. Ai!, que saudades de Salamanca, Ai!, que temos que ir a Évora com o Melro, Ai!, que não posso sair até muito tarde por causa dos meus pais que vêm a Lisboa. Depois, passou o telefone a esta senhora, com não menos gramas de álcool por litro de sangue, que me informou sobre o Wanderlei, o neurónio solista que tinha abandonado durante o dia de hoje a sua belíssima carreira, daí a idiotice do post sobre os atentados. Finalmente, este outro senhor, que gritava que se desunhava. A conversa era banal, mas deu saudade. São as conversas de todas as noite, bem bebidas, às vezes um bocado disparatadas (especialmente quando o Lameira entorna bebidas). Mas tive pena de não estar aí convosco, feito parvo à porta do Lux, a rir não sei bem de quê. Mas amanhã, sem falta, estamos por aí. No Tóquio ou no Europa, no Bairro ou no Lux, está combinado. Era só isto que tinha para dizer. As noites são quase todas iguais, mas quando não é assim, estranha-se. Até amanhã, pessoal. E obrigado pelo telefonema.

7/07/2005

Londres

- Que dia é hoje?
- É sete.

Sven Hassel

Sempre que passo no chiado páro num quiosque que vende livros velhos...

Tenho adquirido lá ultimamente alguns exemplares muito maltratados mas quase impossíveis de encontrar á venda nas livrarias normais...

Dois dos três livros que lá comprei(por um euro cada) são da autoria de Sven Hassel. Intitulam-se "Os Carros do Inferno" e "Camaradas de Armas".

Hassel é um conhecido(e reconhecido) autor alemão que tendo sido soldado na Segunda Grande Guerra põe no papel as suas experiências da Guerra, numa escrita simples, crua e muitas vezes violenta e até obscena. Nenhum promenor de horror e de angústia é poupado ao leitor que assim tem uma noção daquilo por que passaram aqueles que combateram nas piores batalhas da História da Humanidade.

Hassel teve a sorte de sobreviver à guerra, considerando que esteve no pior teatro de guerra possível...a frente Russa.

No entanto no meio de todo o horror e morte, Hassel realça a única coisa positiva de tudo o que o rodeava...A camaradagem com os seus companheiros...De facto Hassel tem papel quase apenas de narrador, em histórias onde são os seus companheiros que obtêm o protagonismo. O "Legionário", o "Miudinho", "Alte" e "Porta" são personagens com quem ficamos íntmos e seguimos apaixonadamente, enquanto a guerra destroi e mata á sua volta.

Das ruas destruídas de Berlim até ao gelo da Rússia, Hassel e os seus companheiros lutam, não por Hitler, nem mesmo pelo seu país, mas uns pelos outros e pela sobrevivência.

Para mais informações : www.svenhassel.net

7/06/2005

Uma Praia para Vinicius

Durante os próximos dias, o Ivan d'A Praia vai homenagear Vinicius de Moraes, com excertos, textos e depoimentos, entre os quais se destaca o excelente depoimento do Chico Buarque. Faltam só duas coisas na lista do Ivan: Tarde em Itapoã e Samba da Benção. São falhas imperdoáveis, ó Ivan.

(Talvez uma terceira, mas que percebo não estar incluída. Falo de Pela Luz dos Olhos Teus. Já agora, porque essa música - geralmente associada à parceria com Miucha, que com ela gravou em Lugano em 1983 - não está na lista? Espero que a Miucha não seja outra das "sentimentalonas pirosas".)

What about me?

1)Que horas são?
17:08

2)Quantidade de velas no último bolo de aniversário?
2 velas (Perguntas mal feitas é que não...)

3)Furos nas orelhas?
Não, por duas razões: não gosto; e se eu aparecesse com um brinco em casa calculo que o meu pai tivesse três enfartes do miocárdio.

4)Tatuagens?
Ando a pensar nisso. Muito seriamente. Falta só escolher o sítio.

5)Piercings?
Segue a mesma lógica dos furos nas orelhas. Os avc's é que seriam a dobrar.

6)Já foi à África?
Não. Mas já escrevi neste blog que tenho uma grande urgência nisso.

7)Já ficou bêbado?
Não compreendi a pergunta. Hoje juro que não.

8)Já chorou por alguém?
Já. A maior parte das vezes por me comover com determinadas pessoas. Vocês não acreditam na quantidade de gente verdadeiramente extraordinária que conheço.

9)Já esteve envolvido em algum acidente de carro?
Já. Em vários. Desde um taxi que queria entrar pela porta do meu taxi até ter espetado um carro funerário num autocarro cheio de crianças de boné amarelo iam para a praia e deixaram de ir. (Também àquela hora o sol já estava muito forte.) Claro que na altura não tinha carta sequer. Sim, já fui rebelde.

10)Peixe ou carne?
Carne. Mas é negociável.

11)Música preferida?
Neste momento, o repeat está em Regret, dos New Order

12)Cerveja ou Champanhe?
Cerveja, cerveja. E não sou esquisito.

13)Metade cheio ou metade vazio?
Sem dúvida, metade cheio. E nunca me arrependi. Mas tenho tido muita sorte.

14)Lençóis de cama lisos ou estampados?
Lisos. Mas como não sou eu que mudo os lençóis, contento-me com o que há.

15)Caneta ou Lápis?
Caneta, regularmente. Lápis, sempre que o que vou escrever tem de ser pensado. E lápis para sublinhar poesia.

16)Programa de tv?
O que se responde a isto?

17)Filme preferido?
Sou péssimo nesta caregoria.

18)Está ouvindo alguma música agora?
A banda sonora do Mar Adentro. Faixa 6.

19)Flor(es)?
As rosas que o meu pai planta, cuida e colhe numa fazenda pequena e bonita no Brasil, numa serra de nevoeiros matinais e onde o sol se põe cedo, atrás de umas mangueiras altas.

20)Qual o amigo mais distante que tem?
O Henrique, a viver em Santiago do Chile.

21)O melhor amigo?
Nunca foi um só. Tenho três melhores amigos. E são tão especiais que é impossível escolher um deles.

22)Hora de dormir?
No inverno, gosto de me deitar realmente cedo. No verão também: por volta das sete da manhã tento sempre estar na cama. Não conheço ninguém com os sonhos tão desordenados como eu.

23)Quantas vezes você deixa tocar o telefone antes de atender?
E não atender o telefone? Há coisa melhor?

24)Qual a figura do seu mouse-pad?
Não tenho.

25)Cd preferido?
De todos os tempos? O Jagged Little Pill, da Alannis.

26)Mulher bonita?
O termo "bonita" é um pouco dúbio. Pela beleza, vai ganhar então a Ana Paula Arósio. Mas sou mais do charme do que da beleza.

27)Homem bonito?
Eu! eheheheh Sei lá...

28)Pior sentimento do mundo?
Quando me desiludo comigo. Acho que se confunde com a culpa.

29)Melhor sentimento do mundo?
O melhor sentimento do mundo, seja ele qual for, só resulta quando nos sentimos bem connosco. Digo eu...

30)O que uma pessoa não pode ter para ficar com você?
Aborrecimento.

31)O primeiro pensamento que você tem ao acordar?
Só mais cinco minutos.

32)Se pudesse ser outra pessoa,quem seria?
Acho que ninguém idolatra niguem ao ponto de desejar ser outra pessoa.

33)O que é que você tem debaixo da cama?
Nada. Quer dizer, devo ter isqueiros. Tenho-os por todo o lado. São centenas de isqueiros em casa: dentro da roupa, no filtro da máquina de lavar roupa, a marcar livros, nos parapeitos...

34)Uma frase.
Sejamos realistas; exijamos o impossível.

PEDEM-SE AS RESPOSTAS DO PESSOAL DO COSTUME

3, 2, 1...

And the winner is... (esperamos um pouco enquanto duas senhoras e um senhor de olhos em bico cantam o hino)... Londres! Yéééééé!

JO (2)

Claro que o importante não é a festa do desporto. Caso contrário, os diários franceses não tinham publicado anedotas de mau gosto sobre os ingleses. Caso contrário, os organizadores de Moscovo 20012 já teriam avisado os moscovitas que a cidade está fora da corrida (e já passaram várias horas desde que, em Singapura, se decidiu os dois finalistas). Caso contrários, os ingleses não diziam que Paris não é segura, uma vez que foi lá que morreu a princesa Diana. Parece tudo mentira. Mas é verdade.

Lá se vai uma boa oportunidade para ir a Madrid

Madrid, eliminada; París y Londres se disputan los Juegos

(Um argumento incompreensível: todos os chefes de estado defendiam a candidatura própria garantindo que os compatriotas queriam muito receber os JO. Esta gente nunca aprendeu economia de palavras. É que isso é óbvio, portanto não é argumento. É que fiquei irritado com o discurso do Chirac.)

Mrs. Barroso

O diário inglês "The Independent" faz hoje um retrato das primeiras damas do G8. A mulher de Barroso tem um lugarzinho. Até Laura Bush parece mais interessante neste retrato.

Margarida Sousa Uva (Mrs Barroso*)

(*So not technically a G8 wife, but since Japan's Junichiro Koizumi divorced in 1982, and Mr Barroso attends G8, she makes the grade)

Age: 48
Married: 24 years
Children: Luis, Guilherme and Francisco, aged 21, 18 and 16.
Background: She was a literature student when she met Jose Manuel Barroso.
Hobbies: She read a poem about a trout, praising her husband, that drew public mirth.
Fashion: She avoids fashion magazines and photographers.
Causes: She sits on the advisory board of the European Network on Street Children Worldwide.
Influence: A passionate supporter of her husband's politics.

7/05/2005

Quem tem medo dos chineses?

Nada tenho contra os chineses e indianos que acharam que era neste país que estava o seu futuro. Aliás, até acho bem feito terem vindo. Por várias razões. Primeiro, são responsáveis pelas saídas da minha avó que, de estar farta do comércio tradicional, quase não saía de casa. Agora, farta-se de andar e de comprar coisas inúteis. (Sempre tive um fetiche por coisas inúteis.) Ele é bases para o incenso, mesmo que cá em casa ninguém o queime; ele é porta-CD’s do Homem Aranha, mesmo que cá em casa ninguém ande com os discos de um lado para o outro; ele é champô especial para ter cabelo de rato como os chineses, ainda que cá em casa ninguém tenha alguma vez manifestado desejo nesse sentido. Depois, há outra questão, um pouco mais séria. A vaga dos chineses só veio substituir mediaticamente a invasión espanhola. E quem grita contra o mercado livre são sempre os mesmos: os que não se souberam modernizar, os que vivem à conta dos subsídios, os que à conta dos subsídios compraram brutos carros em vez de máquinas em condições para a fábrica. E a lista poderia ser interminável. O que tenho a dizer é: era previsível. Não souberam defender-se, agora aguentem-se.

7/04/2005

Que se faz tarde!...

Nunca percebi o orgulho com que algumas pessoas (políticos sobretudo) afirmam que Portugal é um país de emigrantes. É que isso é pouco abonatório. Digo eu, que quero emigrar.

Acidental(mente)

Não sou grande frequentador, mas por vezes passo pel'O Acidental. E, dentro d'O Acidental, busco sempre as pérolas do Rodrigo Moita de Deus. Não por concordar frequentemente com o senhor, mas precisamente pelo inverso. Mas hoje, acidentalmente, concordei com o acidental Moita de Deus. Esta é a excepção que confirma a regra.

Economia

Fiquei fã, como diria alguém, do magazine de economia que antecede o Jornal das 7 da SIC Notícias. E isto porque nunca o economiquês foi apresentado por uns olhos assim.

Nós também não te queríamos cá, e olha…

Já sei em quem votar nas próximas presidenciais. Não, não tenho nenhum furo que desfaça tabus e afins. Mas já sei em quem votar em 2006. Assim, porque é verdade e para que conste, quem me disser que vai tirar o tiranete do ilhéu (melhor, que vai remeter o tiranete ao ilhéu), fica com a minha cruz no boletim de voto.

7/03/2005

Há idade certa para se gostar de domingos

Um velho calção de banho
O dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar
Depois na praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de coco

É bom
Passar uma tarde em Itapoã
Ao sol que arde em Itapoã
Ouvindo o mar de Itapoã
Falar de amor em Itapoã

Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha
E com o olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda a rodar

É bom
Passar uma tarde em Itapoã
Ao sol que arde em Itapoã
Ouvindo o mar de Itapoã
Falar de amor em Itapoã

Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
E o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais
E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã

É bom
Passar uma tarde em Itapoã
Ao sol que arde em Itapoã
Ouvindo o mar de Itapoã
Falar de amor em Itapoã


Tarde em Iapoã, Vinicius e Toquinho

7/01/2005

Um post rápido antes de sair de casa

Caso a Ana Sá Lopes passe por aqui, queria só dizer-lhe que gostei muito do post de hoje. Ás vezes, acho que eu e os meus também somos uma geração enlatada entre qualquer coisa, mas qualquer coisa sempre “menor” que os que eram donos disto e os filhos do 25 de Abril. Talvez por isso, oiço Joy Division e New Order com a nostalgia de algo que não vivi. Qualquer coisa que os primos ouviram. Talvez por isso, oiço Alegria, Alegria do Caetano ou Carcará na voz da Bethânia e sinto a nostalgia de outras guerras, mas que também não foram minhas. Mas como hoje estou bem disposto, talvez vá colocar a seguir os Anos Dourados. Talvez porque estes anos, um dia, sejam dourados. Sabem bem os primeiros versos antes de sair para jantar. Não é muito. Mas imagine que é Chico a cantar. E como não nos vemos há tanto tempo, estes Anos Dourados são para si. Porque é sexta-feira, porque é final de tarde.

Parece que dizes
te amo, Maria
Na fotografia
Estamos felizes
Te ligo afobada
E deixo confissões
No gravador
Vai ser engraçado
Se tens um novo amor
Me vejo a teu lado
Te amo?
Não lembro
Parece dezembro
De um ano dourado
Parece bolero
Te quero, te quero
Dizer que não quero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais

Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
Te ligo ofegante
E digo confusões no gravador
É desconcertante
Rever o grande amor
Meu olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais